segunda-feira, 30 de novembro de 2009

CAMINHANDO

Dê-me a mão,
não tema meu dizer:
trago-lhe apenas uma alma mecânica
e uma imagem padronizada!

Tenho paixões esquecidas,
horrores adormecidos,
algumas formas recusadas
e um deus presumido.

Não tenha receio!... Vamos!...
A avenida é muito grande,
adiante, os templos das formas,
esta cidade é muita linda.

No vento, seu corpo quente,
sua alma tão necessária,
sua respiração essencial,
e seu silêncio.

Temos tempos consolidados,
uma distância circunstante.

Vê estas árvores?
Prenunciam as sombras das noites,
falsas imagens de luzes projetadas,
a liberdade estabelecida.

domingo, 29 de novembro de 2009

DOMÍNIOS

Os que imploram sempre golpeiam,
há a tradição e os ímpetos do medo,
palavras que se desarticulam,
estranhas sintaxes.

Os piedosos são os que impõem,
trazem deuses e frutos permitidos,
as imagens das sombras,
os sentidos da hipocrisia.

Nos cálculos da cegueira,
a mudez e a recusa,
os olhos apagados,
o frio dos ventos vazios.

A dor não mais é o que faz gritar,
mas o que silencia a voz contrária,
a desesperança dos supliciados,
as razões de uma alma adversária.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

EXISTÊNCIA

Nas intensidades das coisas,
onde se cancelam os tempos,
nossos passos sem sentido,
nossas não-indicações.

E nossas imagens,
como os pássaros estranhos da noite,
sombras em que nos mostramos.

Erguemo-nos com nossas ausências,
nossos caminhos escondem o nada,
as catástrofes das simetrias.

Aqui estamos!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

AMBIENTE

Na sala, as imagens descontinuadas,
as pessoas que se sentam
e que se percebem.

Na sala onde se acontece,
espelham-se conversas convenientes,
chocam-se submissões...

E gestos circunstanciais.

Nos sussurros, o transitório,
as palavras impossíveis,
a inércia dos objetos.

Na sala que se vence em si mesma,
que se expande e se estreita,
vultos sequiosos e angustiados...

Na sala, na tão exclusiva sala.

sábado, 14 de novembro de 2009

DEPOIS DA AULA

Conclusivas recusas
e um chão escondido.
Sólidos ventos levam o tempo.

Na intensidade da luz do dia,
calor, umidade e dor.

Lá embaixo, o pequeno morro
e pequenas várzeas estreitadas;
adiante, a rígida cerca dos homens.

Nas cores intensas que se escondem,
muitas serpentes adentradas.

A casa, que é tão real, é distante;
em meu falar ocultado,
é uma construção adversa.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ADVENTO

Das profundidades do dia,
chego com minhas substâncias:
meus sólidos passos,
passos decisivos.

Suor já seco e incrustado,
pele escamosa, pele dura,
homem encerrado,
mãos inexistentes.

Suponho-me ar,
temeridade dos olhos,
brisa gélida,
noite.

domingo, 1 de novembro de 2009

TRIVIALIDADE

Nossas permanentes tristezas...
Grandes demais para que choremos.
Nossas vergonhas, nossos vexames,
temos supostas flores nas mãos.

O mundo sempre é distante de nós, muito distante,
e somos um tanto enlouquecidos:

vivemos a época que não temos
e cantamos a canção que não é nossa...
Multidões passam em demasia na rua,
passam e pisam ininterruptamente.