segunda-feira, 27 de abril de 2009

DESCOMPREENSÃO

A cidade, igual à morada,
não é sua, não lhe pertence,
ainda que a construa.
No buraco de uma agulha,
passa um elefante.

Nunca pergunte pelos motivos:
as coerências dos olhos, suas lógicas,
sempre meras aparências.

Não há razão no mundo.
As ordens são as singularidades das desordens.
Universos explodem como estrelas fossem.

DECLÍNIO

O abismo é minha alma,
é sua ausência, é sua imagem,
meus passos em suposta rua
e o vazio dos ventos.

Corre-se em busca de tudo
e morre-se interminavelmente.
Fica só seu suspiro, seu encanto,
o que deve existir.

Tenho uma direção inexistente,
invenções de beijos mortos,
e, diante de meus olhos, há flores sujas,
propósitos e causas irreveláveis.

sábado, 18 de abril de 2009

ESPECTROS

Ah, as pálidas mãos dos cativos,
as duras e ásperas mãos que cessaram
por trás da conformação das lágrimas!

Há linguagens sem imagens,
brasas frias, muito frias...
E pés arrastam-se lentamente,
muito lentamente,
já inexistentes.

Há um corpo desfeito,
muitos dias esquecidos,
um sol prisioneiro,
e raios distantes, perdidos,
os túmulos consentidos.

domingo, 12 de abril de 2009

ALTERNATIVA

De sua roupa florida,
cairão pétalas nos caminhos,
que serão os sentidos da vida,
tudo que florescerá
nos pés de quem as pisa.

E em seus significados,
homens de cabelos acobreados
pisarão com profundidade,
saidos das entranhas do mundo,
em imponentes cavalos negros.

Então, estudarei passados alheios
nas trevas do tempo,
nos muitos receios
dos homens inconformados,
sombras rústicas e famintas...

Dos homens despossuídos,
dos homens sem cabelos acobreados.

terça-feira, 7 de abril de 2009

DISSIPAÇÃO

Nas contradições dos dias mutilados,
formas podres surgem cultivadas
e afirmam-se imagens sem máculas,
as predominantes luzes das sombras.

Há gritos e risos deformados,
prédios com luzes desertas,
as diluições dos sentidos do silêncio,
e espelhos quebrados...

Há um sol que nunca arde,
que nunca se vê,
de dor esquecida,

e a contingência de ser....

sábado, 4 de abril de 2009

SERENIDADE

Ei, cidade que não é minha:
há cristais de noites frias,
almas intensas e vozes tumultuadas,
restos de densos dias repudiados!

Nos olhos que se fecham,
as instâncias das recusas,
os densos sonhos perdidos,
os traços de pedras perfiladas.

E chove mansamente, cidade, chove...

Nas casas das ruas simétricas,
há segredos sem sentidos,
substâncias inexistentes,
gritos e choros esquecidos.

E diluem-se as imagens desistidas,
há muitos vultos de almas fabricadas,
sussurros de veículos insinuantes,
muitos os brilhos largados no chão.