sexta-feira, 30 de maio de 2008

Despertar

A luz, quando surgiu,
fez-se em fruto precioso
e viram-se cruas as almas:
havia mulheres lascivas nas relvas
e homens aturdidos pelos vinhos.

Sob as sombras de árvores frondosas,
nos corpos inteiramente descobertos e nus:
as agonias e os êxtases onanísticos,
os sombreados e as decisivas rebeldias.


Era um tempo de olhos letais.

Amanhecer

Então o Sol veio de depois do mar,
veio de detrás dele, bem de longe;
água-chumbo acabada na praia,
mansidão de brisa e de marulho,
tempo imobilizado no céu de mostarda.

Lâmpadas que se apagaram,
o chão de areia endurecida de água,
os pequenos passos-poça que ficavam,
qualquer dia, um dia repetido e cansado,
o odor da comida que se desejou.

Mil lampejos de cores nascentes,
velhos vultos atléticos nas calçadas,
muitos aparelhos de tv já ligados,
vias de casas e templos convergentes,
os incontáveis sonhos estabilizados.

Então, ao passar dos primeiros veículos,
inúmeras virgens dançaram como vestais,
senhores e senhoras muito se ensimesmaram.

Os pássaros foram matinais,
as pequeninas crianças, risonhas,
e alguns meninos e meninas, desencantados...

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Noturno

Ah, quando os tempos se levantam
e o mundo adormece,
quando espero a brisa!...

Na noite, no silêncio das estrelas,
cintile cidade, cintile muito em seu sono,
cintile em seus olhos tão fechados,
pois há cavalos-luas e cavalos-nuvens,
brancos cavalos alados no alto do céu,
e uma presença doce que vem a mim!

Luminosidade

A lâmpada é o artifício,
ela mostra a luz que se quis:

na substituição da alma,
a validade que se constrói,
o que cruza a invisibilidade do ar;

nas imagens da alma desvivida,
o tempo adquirido, o sossego...
a ordem de uma casa fechada.