sábado, 21 de fevereiro de 2009

VENTOS

Os ventos levam os tempos consigo,
e levam os sussurros, levam os alentos,
nunca escutam e nada dizem sobre as indiferenças
que há em seus lamentos e desencantos.

Eles, os ventos, nunca param,
sempre se vão, sempre,
nunca retornam.

E deixam, tão-só, os tormentos antigos,
o silêncio das histórias inconclusas,
as efemeridades dos sucessos,
as pessoas reclusas das memórias.

No silêncio, sua presença que cessou,
nos sucessos, as noites que não foram intensas,
nas memórias, a permanência dos mesmos dias.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

SOL-DAS-ALMAS

Lá, na vermelhidão do horizonte,
onde tão-só os olhos alcançam,
o imenso incêndio, o termo da luz,
o fogo eterno que procura a noite.

Nas ave-marias da pequenina cidade,
três badaladas em um sino sem eco,
braços abrem-se em negras asas de pele,
vultos cegos desordenam-se no ar.

Corre ônibus, corre ônibus!...
Corre para o fim do tempo, corre
em busca do que sempre se distancia,
do bem depois do fim do mundo!

Corre com seu barulho permanente,
com a triste monotonia de seu motor,
no sono de tudo que passa,
no triste silêncio da solidão!

Ao longe, os serrotes escurecidos,
os rochedos desnudados do tempo,
o que tanto detém meus olhos,
as capoeiras secas, as poucas árvores...

No sol-das-almas, há o frio do nada
e as árvores são vultos necessários,
são sombras sinistras que se libertam,
a poeira do tempo cessado...