A enorme baia, a ilha adiante...
Longe dos olhos, outras ilhas...
Volto-me para seus seios cobertos,
descubro-os enrijecidos.
Sob a estátua do poeta,
muitas pedras pisadas
e, vestindo estrelas consumidas,
suas pernas, a maciez, o calor.
Diante de mim, o escuro do mar,
o sal que me constrói os olhos,
há um trio elétrico que passa
e invento os corpos das ruas.
Ladeira abaixo, as velhas casas,
de porta em porta, prostitutas,
levezas de carnes expostas,
tristes sonhos em noite fecunda.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
TARDE DE VERÃO
Na ladeira dos homens passados, sempre,
as descobertas dos vultos e das sombras,
sol ardente sobre escadas alternadas...
No topo da ladeira, o objetivo,
a suavidade do vento nos olhos,
o ar que se respira.
Lá embaixo, sob telhados tumultuados,
mulheres e meninos desencontrados,
nas ruas, os carros distantes;
no alto, na moita-esconderijo,
carne de seda ardente que espera
e passos quase imobilizados.
No não-acontecer,
sentidos e perspectivas,
pés em gramas densas e molhadas,
respiração e ansiedade,
codorna voa para o alto,
o céu é cúmplice do silêncio.
E, nos arredores da inércia,
há cheiros de fezes e urina,
chão imundo e imperdoável,
é dia, ainda não há estrelas.
as descobertas dos vultos e das sombras,
sol ardente sobre escadas alternadas...
No topo da ladeira, o objetivo,
a suavidade do vento nos olhos,
o ar que se respira.
Lá embaixo, sob telhados tumultuados,
mulheres e meninos desencontrados,
nas ruas, os carros distantes;
no alto, na moita-esconderijo,
carne de seda ardente que espera
e passos quase imobilizados.
No não-acontecer,
sentidos e perspectivas,
pés em gramas densas e molhadas,
respiração e ansiedade,
codorna voa para o alto,
o céu é cúmplice do silêncio.
E, nos arredores da inércia,
há cheiros de fezes e urina,
chão imundo e imperdoável,
é dia, ainda não há estrelas.
SENTINELA
Os velhos morreram...
Deixaram suas cadeiras,
suas mesas, seus cristais;
e deixaram suas roupas sujas
e os que ficaram elaborados.
Muitas velas se consumiram,
muitas orações foram ditas,
anunciaram-se pretensões,
comemoram-se as memórias
e as faces inexpressivas.
Todos se olhavam e bebiam
todos se viam, se examinavam,
nos copos plásticos, a aguardente,
no chão, as imagens,
os limitados homens que ficavam.
Com suas almas vazias,
seus olhos frios, apagados
e murmúrios sem sentido,
os que ficaram choraram
e levaram o que foi deixado.
Deixaram suas cadeiras,
suas mesas, seus cristais;
e deixaram suas roupas sujas
e os que ficaram elaborados.
Muitas velas se consumiram,
muitas orações foram ditas,
anunciaram-se pretensões,
comemoram-se as memórias
e as faces inexpressivas.
Todos se olhavam e bebiam
todos se viam, se examinavam,
nos copos plásticos, a aguardente,
no chão, as imagens,
os limitados homens que ficavam.
Com suas almas vazias,
seus olhos frios, apagados
e murmúrios sem sentido,
os que ficaram choraram
e levaram o que foi deixado.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
TRÊS MOMENTOS
Depois que o sol ardeu,
depois que se queimou o ar,
e se fendeu o chão do mundo...
Depois que, sobre as estradas,
por onde passaram gentes imundas,
se adensaram as poeiras inanimadas...
[E as pedras solitárias, as pedras solitárias!...]:
Envergaram-se capoeiras cinzentas,
agitaram-se folhas inexistentes,
fragmentaram-se os ventos...
[Que trouxeram o imenso anoitecer,
o termo do tempo e seu silêncio].
E, inutilmente, os homens quiseram lutar!...
...
Reacendido o dia: nuvens negras,
vultos-insetos que refizeram o céu,
gritos misturaram-se com ventos:
sombras cortaram a luz,
cortaram os olhos e as vozes,
e reouveram a noite.
[Reouveram-na das preces das mulheres escondidas,
do choro das crianças arrependidas].
E o primeiro clarão brotou do chão dos mortos,
também o segundo, o terceiro, os seguintes,
dentro dos homens cabisbaixos.
Então o ar resolvido se explodiu em seus desenredos,
a noite rachou-se em seu próprio escuro
e portas fecharam definitivamente...
[Nos mistérios das casas,
nos segredos dos corpos nus].
...
Na recuperação da luz,
mil olhos iridescentes
e mil faces dissonantes...
[E as conotações das recusas].
No azul, no infinito campo celeste,
o longínquo corpo de prata
com duas compridas linhas de gelo...
[Limites de sua trilha deixada].
depois que se queimou o ar,
e se fendeu o chão do mundo...
Depois que, sobre as estradas,
por onde passaram gentes imundas,
se adensaram as poeiras inanimadas...
[E as pedras solitárias, as pedras solitárias!...]:
Envergaram-se capoeiras cinzentas,
agitaram-se folhas inexistentes,
fragmentaram-se os ventos...
[Que trouxeram o imenso anoitecer,
o termo do tempo e seu silêncio].
E, inutilmente, os homens quiseram lutar!...
...
Reacendido o dia: nuvens negras,
vultos-insetos que refizeram o céu,
gritos misturaram-se com ventos:
sombras cortaram a luz,
cortaram os olhos e as vozes,
e reouveram a noite.
[Reouveram-na das preces das mulheres escondidas,
do choro das crianças arrependidas].
E o primeiro clarão brotou do chão dos mortos,
também o segundo, o terceiro, os seguintes,
dentro dos homens cabisbaixos.
Então o ar resolvido se explodiu em seus desenredos,
a noite rachou-se em seu próprio escuro
e portas fecharam definitivamente...
[Nos mistérios das casas,
nos segredos dos corpos nus].
...
Na recuperação da luz,
mil olhos iridescentes
e mil faces dissonantes...
[E as conotações das recusas].
No azul, no infinito campo celeste,
o longínquo corpo de prata
com duas compridas linhas de gelo...
[Limites de sua trilha deixada].
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