Eu vejo o desfile imenso:
as faces, os risos mortos,
os muitos olhos escuros,
as bocas deformadas,
os hálitos fétidos.
Eu vejo o grande desfile
seguindo o potentado,
a infinita procissão de sombras,
estendida nas penumbras dos dias.
Eu sinto, eu percebo, eu sei!
Vejo a consistência dos vultos,
os cálculos de seus passos frios,
o desfalecer, a rendição dos santos,
na inteira submissão dos reflexos.
Vejo as enormes filas vindas das distâncias,
as mulheres ocultas, travestidas no branco,
e as lamúrias dos homens não-revelados,
seus pés inúteis sangrados.
E você é como uma jarra com flores murchas,
negra de água apodrecida e lodo,
pois, com minhas mãos, lhe nego um abismo
e entrego-lhe imagens profundas sem véus.
Eu sempre venho, sempre me anuncio:
ainda lhe trago incenso, ouro e mirra
e trago-lhe, agora, uma cruz de acrílico,
tenho uma imensa avenida plástica.
sexta-feira, 13 de março de 2009
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Um comentário:
Este texto vem comprovar minha teoria sobre o "arrepio". :)
Como você escreve bem, Roberto!
Adorei também o poema sobre as pedras, os vidros, as resinas... Nossa... lindo.
Um final de semana, iluminado pra você!
beijo
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