sábado, 1 de novembro de 2008

Noite densa

Noite densa, noite sem brisa!...
Eu venho do vazio, por onde a penetro,
e, como percorresse chão imenso,
faço-me o silêncio estrelar...
Sou vento e sou prata de oceano.

Meu corpo, que lanço em areias desertas,
é sombra desvairante dos adormecidos,
palmeira-serpente estendida para o escuro...
E pedra banida, pedra cambiante.

Tenho um não-beijo, um tempo inexistente,
tenho o que as águas do rio nunca levam...
nem trazem...

Ah, densa noite:
Sou ar e sou sonho desafiante,
com minha mão, ergo confiante
a luz que é só minha, a luz visionária,
em que se encaminha alma adversária!

E entre as pessoas silenciosas,
que são águas consentidas no dia,
deito-me na praia que foi formosa
e vejo ambrosias feitas de lua.

E sua chuva triste é minha sentença,
a meu irmão, só ofereço lama infeta,
a dor que sinto tão intensa e forte,
a imagem abjeta em que me estabeleço.

Noite densa, tão noite, tão verdade,
lá, depois da praia que foi formosa,
o largo rio, um rio sem mortos,
sei que se abre para a iniqüidade!

Por que não me deixa ver o rio, noite,
se me traz seu som, seu cheiro de mil vidas,
no sentido frio de sua permanente chuva?
Por que, noite, você é tão minha?

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