terça-feira, 25 de novembro de 2008

Cotidiano

Na sala, estão as pessoas de dentro de casa,
as pessoas antigas e as que se ausentaram,
a luz pálida que se estende bem fraca e nua,
a luz da lâmpada, do silêncio pendente,
o sofá, a poltrona, a escura mesinha de centro,
e uma noite retida na rua.

As conversas são fúteis, as palavras desnecessárias,
bocas alongam-se e retraem-se – vozes,
os contornos dos lábios, os hálitos inúteis.
É sólida e conciliada a casa possuída,
conserva-se o tempo, a lâmpada está bem fixa.

Os olhos desbotados, acostumados,
eles se trocam nas mesmas faces,
os gestos são recorrentes, lentos,
novas costuras na roupa antiga
e a maneira do não-fazer.

E as moscas dormitam, sempre dormitam:
há o lado de dentro, o ócio despercebido,
o fio que prende a lâmpada, a quietude,
a luz, a mesa e as cadeiras quase vazias,
a poeira que flutua quase imóvel.

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