sábado, 11 de outubro de 2008

Palavras tardias

Moça perdida em meu próprio tempo,
das tardes ensolaradas em repouso:

No piano, meu momento, minha palpitação;
no fascínio surpreendente de sua imagem,
o sonho de amor de Franz Liszt latente,
e os seios que vi tão reais e não toquei.

Naqueles fortes brilhos dos dias entardecidos,
meus olhos inseguros, meus únicos olhos,
meus desjeitos, minhas inexatidões pubescentes,
minha voz incerta, minha voz...

...

Ah, moça da roupa descuidada,
do calor das pernas verdadeiras que senti,
que fez meu sonho pulsar em rosto rubro,
na sala do passado que tinha sua música...

Ainda lhe ofereço minha memória, ainda,
mesmo que memória sem corpo e sem sangue,
com a intensidade dos olhos que me proibiram
ou que, talvez, muito me recusei a descobrir.

E, em meu silêncio indeciso na sala de sua música,
em minha triste alma que ficou desedificada,
o dia que não construí.

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