segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

TRÊS MOMENTOS

Depois que o sol ardeu,
depois que se queimou o ar,
e se fendeu o chão do mundo...

Depois que, sobre as estradas,
por onde passaram gentes imundas,
se adensaram as poeiras inanimadas...

[E as pedras solitárias, as pedras solitárias!...]:

Envergaram-se capoeiras cinzentas,
agitaram-se folhas inexistentes,
fragmentaram-se os ventos...

[Que trouxeram o imenso anoitecer,
o termo do tempo e seu silêncio].

E, inutilmente, os homens quiseram lutar!...

...

Reacendido o dia: nuvens negras,
vultos-insetos que refizeram o céu,
gritos misturaram-se com ventos:

sombras cortaram a luz,
cortaram os olhos e as vozes,
e reouveram a noite.

[Reouveram-na das preces das mulheres escondidas,
do choro das crianças arrependidas].

E o primeiro clarão brotou do chão dos mortos,
também o segundo, o terceiro, os seguintes,
dentro dos homens cabisbaixos.

Então o ar resolvido se explodiu em seus desenredos,
a noite rachou-se em seu próprio escuro
e portas fecharam definitivamente...

[Nos mistérios das casas,
nos segredos dos corpos nus].

...

Na recuperação da luz,
mil olhos iridescentes
e mil faces dissonantes...

[E as conotações das recusas].

No azul, no infinito campo celeste,
o longínquo corpo de prata
com duas compridas linhas de gelo...

[Limites de sua trilha deixada].

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