quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SÓ QUATRO LINHAS

Porque não entendem,
renegam a felicidade...
Ignoram que ela é pecado humano,
a contrariedade original.

6 comentários:

nydia bonetti disse...

E quanta vida se perde, por conta "só" destas quatro linhas.

Gostei muito, Roberto.

Beijo.

Rolando Palma disse...

O entardecer da praia – talvez de qualquer praia – era sempre algo de mágico, único.

Da varanda do quarto de hotel, deixou que o olhar se perdesse na areia, no rebentar das ondas, no vaivém da espuma molhada. Alguns atletas de domingo aproveitavam os últimos raios de sol para uma corrida no areal, contornado os improvisados campos de futebol, saltando sobre os castelos de areia.

As gaivotas, habitualmente tão pontuais, ainda não haviam anunciado a sua presença.

Ela esticou os braços, libertando a preguiça acumulada

- Um café ... como saberia bem agora um café...

Foi então que reparou neles. Ali bem na sua frente, no meio do areal.

Qualquer deles certamente já com idade suficiente para ser seu pai ou mãe, talvez mesmo ate avós. Ambos sentados na areia, ela colada a um vestido arroxeado, longas madeixas brancas caídas sobre os ombros, ele dedilhando um violão, um chapéu de palha a proteger-lhe os olhos do sol poente.

Aquela distância, nunca conseguiria ouvir os acordes da musica, abafados pelo rebentar das ondas. Mas conseguia perceber a suavidade do toque, a dedicação da presença, inclinado para ela.

Subitamente, sentiu inveja deles, ou daquilo que representavam . Desejou sem querer que quando chegasse o seu tempo - o tempo dos cabelos brancos e das longas tardes de outono – existisse também para ela uma praia e a atenção de um violão, dedilhado com ternura e sentimento, com paixão ate.

- Vem para dentro... esta a entrar muito frio aqui para dentro...

Ela voltou à realidade.

Sobre os lençóis revolvidos, ele lançava-lhe um olhar… aquele olhar de desejo que ela tão bem conhecia.

- Apetecia-me ir caminhar na praia… - disse finalmente - tenho saudades dos nossos passeios de mãos dadas, ao longo do areal…

Ele abriu muito os olhos.

- Os nossos passeios na praia? Mas nós nunca passeámos na praia… sempre te fez impressão caminhar descalça sobre a areia…

- Eu sei… mas isso é o passado…. Agora eu quero ter saudades desses nossos passeios na praia…. Levas-me? Vens comigo?

Ele soltou os lençóis e caminhou para ela, encostando-se os dois às vidraças da varanda. Lá fora, os últimos raios de sol anunciavam o crepúsculo, tingindo de carmim as nuvens mais longinquas.

- Posso fazer-te uma pergunta ? - lançou ele finalmente, o queixo apoiado sobre o ombro dela.

Ela concordou em silêncio.

- Queres … envelhecer comigo?





De repente… sentiu qualquer coisa a irromper-lhe dos olhos. Não fosse a imensa felicidade, poderia até ser simplesmente uma lágrima de sal. Não lhe respondeu.



Ao invés disso, apertou-lhe simplesmente a mão com força, com muita força.

dade amorim disse...

Quantas condições de felicidade se predem assim, não é mesmo?

Beijo

Doroni Hilgenberg disse...

Pois é...
o pecado original já era,
mas poucos entendem que felicidade é um estado de espirito.
bjs

Renata de Aragão Lopes disse...

Como se fosse possível
decifrá-la... : )

Prazer em conhecê-lo!

Um abraço
e feliz 2010,

doce de lira

Anônimo disse...

Ora, Renata! É só olhar para outro lado.
Caio