sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MEU COMPARECER

Aqui estou:
no silêncio de meus olhos,
nas palavras que não encontro,
neste dia em que escrevo!

Tenho eras escondidas,
aves-serpentes engaioladas,
são vontades-venenos extremadas,
tempestades, tempestades...
substantivas muralhas estremecidas,
casas demolidas e corpos saqueados.

Com meu grito imenso,
visto-me das velocidades dos ventos,
sinto o frio dos corpos desamamentados,
o intenso vibrar das vozes inválidas,
estrelas deslizando lentamente no chão.

Ainda ouço as sereias de Ulisses, o Odisseu,
sinto ainda a espuma do mar no rosto,
mas solto do mastro e sem Penélope,
coberto por panos tecidos nas noites,
nem mais meu cão me reconhece.

Agora, os cavalos são de sílica,
há sangue circulante em nervos óticos,
os invasores são outros, são metálicos,
e os gritos dos fantasmas da sagrada Ílion
são corpos que flutuam no mar adormecido...

Apenas corpos que flutuam...

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