domingo, 25 de janeiro de 2009

CONTRAPONTOS

Ofereço-lhe flores que inventei,
flores que se concluem sem espinhos,
como corpos inteiros sem núcleos,
extraídos das cinzas de espaços inexistentes.

E minhas serenatas dentro das noites
encobrirão os gritos ensandecidos, os gritos...
As vidas enunciadas que surgirão dos artifícios,
os velhos caminhos consentidos,
os velhos caminhos...

Na penumbra de um quarto você estará desnuda,
e poderei notar toda a delicadeza de seu corpo,
sua tão perfeita presença, quase rendida e muda,
perceberei seu corpo quente e a maciez de sua pele negra,
sua pele de cosmos... Sua pele... Eternamente.

Ah, tentarei colocar sua alma e seu corpo sobre lençóis,
sentirei sua respiração arfante, sua respiração-mulher,
o doce calor de seu hálito e da umidade de sua boca,
a sensibilidade que lhe é própria e seus olhos,
e ouviremos muitos veículos transitando nas ruas.

Retirarei, de mim mesmo, o amor que lhe darei,
meu coração que palpitará por ânsia verdadeira,
a ânsia por mim e por você mesma,
nos significados das derradeiras diferenças,
nas ruínas das semelhanças entre os anjos.

Então sentirei a leveza de suas mãos,
mãos que me tocarão tenras, quase tímidas,
mas que me empurrarão, que me excluirão,
e meus pés, lentamente, se arrastarão no chão...
Lentamente... No chão de brasas...
De brasas muito frias...

E os veículos continuarão transitando nas ruas.

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