domingo, 19 de outubro de 2008

Descaimento

Tem-se o sentido de um vulto,
a inquietação da sala, do vazio,
toma-se a suposição de uma luz acesa,
a mancha de alguém inexistente,
uma porta que se abre e fecha lentamente.

A tênue luz que se infiltra na sala,
no chão, numa escrivaninha preta,
um espelho é um cômodo marginal,
a permanência, o silêncio, a sala nua...
o momento do que resta,

a sobra de uma rua...

A porta é fechada decididamente,
a porta que se aprofunda numa noite,
numa noite densa, pesada, repetida,
o sujo insistente, a luz de velas contingentes,
e há fendas nas antigas janelas.

...

Ele tem o sentido da moça,
de sua presença exaurida,
de sua respiração ordinária,
seus odores usados, um rosto sem cores,
os vômitos dos dias anteriores.

Ele lhe lambe o corpo suado,
aperta-o morno e pegajoso,
absorve-lhe a submissão, a imundície,
há uma sombra escorregadia e disforme,
e há uma diferença definitiva... um manto,

o outro lado, o outro canto.

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