Na sala, estão as pessoas de dentro de casa,
as pessoas antigas e as que se ausentaram,
a luz pálida que se estende bem fraca e nua,
a luz da lâmpada, do silêncio pendente,
o sofá, a poltrona, a escura mesinha de centro,
e uma noite retida na rua.
As conversas são fúteis, as palavras desnecessárias,
bocas alongam-se e retraem-se – vozes,
os contornos dos lábios, os hálitos inúteis.
É sólida e conciliada a casa possuída,
conserva-se o tempo, a lâmpada está bem fixa.
Os olhos desbotados, acostumados,
eles se trocam nas mesmas faces,
os gestos são recorrentes, lentos,
novas costuras na roupa antiga
e a maneira do não-fazer.
E as moscas dormitam, sempre dormitam:
há o lado de dentro, o ócio despercebido,
o fio que prende a lâmpada, a quietude,
a luz, a mesa e as cadeiras quase vazias,
a poeira que flutua quase imóvel.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Desconformidades
As horas...
A repentina mãe tardia,
um determinante tempo repetido.
Uma voz rouca e inútil,
a moça, as gentes distantes,
os poucos passos restantes.
E os cães latem, velhos cães,
eles latem no vazio, nos sonhos encerrados,
eles latem numa noite impossível.
E tem uma rua oca e uma esquina adiante
e, depois, um longo instante e uma avenida,
um semblante de velho guarda noturno
e muitas irreferências.
A repentina mãe tardia,
um determinante tempo repetido.
Uma voz rouca e inútil,
a moça, as gentes distantes,
os poucos passos restantes.
E os cães latem, velhos cães,
eles latem no vazio, nos sonhos encerrados,
eles latem numa noite impossível.
E tem uma rua oca e uma esquina adiante
e, depois, um longo instante e uma avenida,
um semblante de velho guarda noturno
e muitas irreferências.
Circunstância
Eu, talvez, surgi em dia sem luz,
qualquer coisa assim...
Se os candeeiros ardiam
(algo devia fazê-los arder),
o vento frio apagava-os
e nenhuma criança chorava.
Muitos me aplaudiam com ardor,
aclamando tempos já enrijecidos,
os lobos uivavam nas ruas,
algumas ovelhas dançavam,
e haveria gente sem cor,
no dia em que surgi.
As sombras deviam ser vadias,
bem vestidas, muito chiques,
e, se não há engano, tardias.
Havia uma mesa largada no canto,
muitas eram as cadeiras vazias,
e uma casa apagada havia,
onde se ergueria um pretendido muro.
qualquer coisa assim...
Se os candeeiros ardiam
(algo devia fazê-los arder),
o vento frio apagava-os
e nenhuma criança chorava.
Muitos me aplaudiam com ardor,
aclamando tempos já enrijecidos,
os lobos uivavam nas ruas,
algumas ovelhas dançavam,
e haveria gente sem cor,
no dia em que surgi.
As sombras deviam ser vadias,
bem vestidas, muito chiques,
e, se não há engano, tardias.
Havia uma mesa largada no canto,
muitas eram as cadeiras vazias,
e uma casa apagada havia,
onde se ergueria um pretendido muro.
Partida
A esquina seguinte,
a moça que fica distante,
uma imobilidade instantânea,
o silêncio da madrugada, ainda a espera...
Porém, o carro é solitário e brilhante,
sua velocidade é a inversão da avenida,
a extensão dos olhos vazios,
o prosseguimento do dessemelhante.
Na imensa calçada permitida,
os brilhos das lâmpadas dos postes,
os sentidos da retirada, da escusa.
No fim da noite, há frieza,
há um forte eco de casa vazia,
as imagens que desaparecem dos olhos,
o sentido da moça que não aconteceu.
a moça que fica distante,
uma imobilidade instantânea,
o silêncio da madrugada, ainda a espera...
Porém, o carro é solitário e brilhante,
sua velocidade é a inversão da avenida,
a extensão dos olhos vazios,
o prosseguimento do dessemelhante.
Na imensa calçada permitida,
os brilhos das lâmpadas dos postes,
os sentidos da retirada, da escusa.
No fim da noite, há frieza,
há um forte eco de casa vazia,
as imagens que desaparecem dos olhos,
o sentido da moça que não aconteceu.
sábado, 8 de novembro de 2008
Retorno
Ah, volto das circunstâncias de uma luz,
sou vestido de éter e de essências arruinadas,
trago o vazio dos cristais e uma cor cósmica,
caminho com os símbolos humanos dos valores.
Meu pão ainda é duro e muito amargo,
meu sangue é de vinagre e veneno,
tenho um tempo e líqüidos anoitecidos,
uma só compulsão, um só espaço:
reivento-a linda moça,
dou-lhe palavras e gestos,
eu me levanto bem único,
minha voz pode não ser etérea!
Sempre reelaboro meus apetites e minhas posses.
sou vestido de éter e de essências arruinadas,
trago o vazio dos cristais e uma cor cósmica,
caminho com os símbolos humanos dos valores.
Meu pão ainda é duro e muito amargo,
meu sangue é de vinagre e veneno,
tenho um tempo e líqüidos anoitecidos,
uma só compulsão, um só espaço:
reivento-a linda moça,
dou-lhe palavras e gestos,
eu me levanto bem único,
minha voz pode não ser etérea!
Sempre reelaboro meus apetites e minhas posses.
sábado, 1 de novembro de 2008
Noite densa
Noite densa, noite sem brisa!...
Eu venho do vazio, por onde a penetro,
e, como percorresse chão imenso,
faço-me o silêncio estrelar...
Sou vento e sou prata de oceano.
Meu corpo, que lanço em areias desertas,
é sombra desvairante dos adormecidos,
palmeira-serpente estendida para o escuro...
E pedra banida, pedra cambiante.
Tenho um não-beijo, um tempo inexistente,
tenho o que as águas do rio nunca levam...
nem trazem...
Ah, densa noite:
Sou ar e sou sonho desafiante,
com minha mão, ergo confiante
a luz que é só minha, a luz visionária,
em que se encaminha alma adversária!
E entre as pessoas silenciosas,
que são águas consentidas no dia,
deito-me na praia que foi formosa
e vejo ambrosias feitas de lua.
E sua chuva triste é minha sentença,
a meu irmão, só ofereço lama infeta,
a dor que sinto tão intensa e forte,
a imagem abjeta em que me estabeleço.
Noite densa, tão noite, tão verdade,
lá, depois da praia que foi formosa,
o largo rio, um rio sem mortos,
sei que se abre para a iniqüidade!
Por que não me deixa ver o rio, noite,
se me traz seu som, seu cheiro de mil vidas,
no sentido frio de sua permanente chuva?
Por que, noite, você é tão minha?
Eu venho do vazio, por onde a penetro,
e, como percorresse chão imenso,
faço-me o silêncio estrelar...
Sou vento e sou prata de oceano.
Meu corpo, que lanço em areias desertas,
é sombra desvairante dos adormecidos,
palmeira-serpente estendida para o escuro...
E pedra banida, pedra cambiante.
Tenho um não-beijo, um tempo inexistente,
tenho o que as águas do rio nunca levam...
nem trazem...
Ah, densa noite:
Sou ar e sou sonho desafiante,
com minha mão, ergo confiante
a luz que é só minha, a luz visionária,
em que se encaminha alma adversária!
E entre as pessoas silenciosas,
que são águas consentidas no dia,
deito-me na praia que foi formosa
e vejo ambrosias feitas de lua.
E sua chuva triste é minha sentença,
a meu irmão, só ofereço lama infeta,
a dor que sinto tão intensa e forte,
a imagem abjeta em que me estabeleço.
Noite densa, tão noite, tão verdade,
lá, depois da praia que foi formosa,
o largo rio, um rio sem mortos,
sei que se abre para a iniqüidade!
Por que não me deixa ver o rio, noite,
se me traz seu som, seu cheiro de mil vidas,
no sentido frio de sua permanente chuva?
Por que, noite, você é tão minha?
Chuva
Linda cidade que não é minha:
sob seu sol e sobre seu dia,
chove, linda cidade, chove!...
Diamantes cruzam seus ares,
crianças vadeiam pelas ruas.
sob seu sol e sobre seu dia,
chove, linda cidade, chove!...
Diamantes cruzam seus ares,
crianças vadeiam pelas ruas.
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