terça-feira, 8 de maio de 2012

Em minha invenção,
meu corpo sem núcleo.
Há números em supostas lousas,
bombas explodem o mundo,
cinzas flutuam no espaço.

Para a noite, grito minha loucura:
penso em sementes antigas
e cogito inexistências...
E meus artifícios, ardências,
cintilações, caminhos delirantes.

Sinto mãos que me empurram.
Levemente arrastados
em minha escuridão,
meus pés se desviam invisíveis.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O televisor é o imperativo,
a contaminação da luz.
Mãos caem lentamente.

E brilhos diluem-se exatos,
ausentam-se nos pontos enegrecidos:
estímulos mágicos e decisivos.

Sonoridades expandem-se no ar,
alternâncias controladas de ruídos,
e vozes induzem os silêncios do sono.

Diante de olhos mansos que se fecham,
vasos quebrados sobre a velha mesa,
unificações de significados.

Nos túmulos, há flores artificiais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Na cozinha, as agitações,
as reconquistas do fogo.
Nos choques de panelas e pratos,
a necessária adoção de alimentos.

No fim do corredor,
a segurança do quarto,
o aconchego do calor
e os segredos dos atos.

Para o tédio do acordar-se,
mulher semi-nua no espelho,
rádio ocupando a sala,
noticiários costumeiros.

Ao baterem-se as horas,
chuva fina escoa o dia.
Sob o pau-d’arco florido,
há um pássaro encolhido.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Nos olhos,
a luz que faz o dia:
luz direta, firme,
que cega.

Na escuridão dos olhos,
manchas caleidoscópicas,
distribuições do firmamento:
brilhos circulares alongam-se
e cristais cintilam.

Diluições cambiantes.

Na face imóvel, apenas o vento,
frescor vindo de seguidos morros,
onde retilínea estrada foi ondulada,
ao romper-se a caatinga verdejante.

Quando os olhos estavam abertos,
a estrada aparecia e desaparecia,
um veículo veloz cobria-se de sol
e despertava tapetes de borboletas.

Ah!.. Foi enquanto flores tinham mil cores
e fecundavam a luz que fez o dia,
exalando mil odores de mel
em busca da direção do mundo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Ela e seus ouros envelhecidos
e seus brinquedos violados,
ela perfeitamente.

Roupas apagadas no silêncio,
cabelo caídos – desalinhos
e sóis negados na metade do dia.

Nas sombras construídas,
opacidades de espelhos, imagens,
chãos exauridos.

Nos seios esmagados,
há uma criança deixada
e vultos elaborados.

Tudo se esconde nas desistências,
nas aparências das lágrimas,
nos contrários dos sentidos.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A poeira é necessária.
Há valimentos, considerações
e pessoas consentidas,
as sobras.

Ela se estende no ar
e define a imobilidade.
Depois, expande-se
e assenta-se no chão.

A poeira é só um elo frio,
a correção e o envolvimento,
o laço invisível,
a correlação familiar.

É o que fica da repetição dos rostos,
costumes de sombras aprisionadas
(e no cansaço, com as intimidades,
as vontades modificadas).

A chuva sempre é perfeita ao amanhecer.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Na inteireza da noite, derreamentos.
E risos, algazarras, pessoas que passam
sob uma janela, em uma rua, no vazio.
O silêncio é lunar.

Na penumbra, a mesa com uma jarra,
flores escurecidas...
E ninguém tirou a cadeira do lugar:
o medo, o assalto, a descoberta.

Palavras são deixadas nos dias,
desnecessárias.
Os olhos são vagos e solúveis,
inconsistências inúteis.